2014 foi um ano criativo pra caraca.
E depois de quase 300 discos nacionais (uns 75%, independentes) ouvidos, juntei os 20 que mais me agradaram, sem ordem de preferência.
Lembrando que não está contando apenas a sonoridade, mas também os aspectos visuais, criatividade, conteúdo das letras (muita coisa mais legal que 2013), projeto gráfico e, o mais importante, a expressão da personalidade de cada banda.
Eis a lista. Sem ordem de preferência. São apenas os 20 melhores deste ano pra mim.
Ruído/MM – Rasura
A parte mais legal do novo disco da banda curitibana ruído/mm é que desde os primeiros acordes há um sentido de imersão do ouvinte, uma necessidade quase caótica de que ele seja personagem do contexto musical através dos arranjos e melodias. Você pode facilmente imaginar uma história para cada faixa, inserindo elementos e traduzindo o som para o lado direito do cérebro.
Meia Dúzia de 3 ou 4 – Tem muito disso que cê tá falando
Em seu terceiro disco, a banda continua cantando a cidade de São Paulo e destilando seu bom humor, recheado de ironia e trocadilhos catárdicos com a realidade. Meia Dúzia, aliás, é uma das poucas bandas que consegue inserir contextos da atualidade (seja uma crítica, seja apenas uma frase, seja apenas um acorde, um verso ou um verbo) misturadas com sonoridade tipicamente brasileira, mas com visão de mundo.
O Terno
Depois de uma estreia de sucesso, muita gente estava olhando para o segundo trabalho d´O Terno. Com campanha no Catarse e apelo hermético de Tom Zé, o resultado é um disco que não só amplia o experimentalismo da banda, mas também traz os anos 60 para o hoje.
Trummer Super Sub América
Um link direto com nosso hermanos, o primeiro projeto solo do vocalista da Banda Eddie é afinado na música e no discurso. Sem soar panfletário em nenhuma estrofe, Trummer canta a América e cria um contraste atual com nosso momento político aqui no Brasil. Um disco carregado de significados que desafia o ouvinte a auto-reflexão em cada refrão e riff.
Primos Distantes
O disco mais divertido do ano não tem medo de rir de si próprio, e essa é a melhor qualidade da dupla Primos Distantes. Já nos primeiros acordes de Dragão (“Ah, eu preciso parar de cantar / todo mundo tentou me avisar / que eu tenho essa voz de dragão”) o descompromisso da banda fica latente e até mambembe, brincando com elementos variados nas músicas e trocadilhos nas letras. Pra ouvir com um sorrisão na cara.
Juçara Marçal / Encarnado
Impossível fazer uma lista de melhores do ano sem falar de Encarnado. O experimentalismo de Juçara Marçal em seu primeiro vôo solo vai de distorções a minimalismos perfeitos, de gritos improvisados a afinações metódicas, de palavras inicialmente desconexas a contextos complexos. Um disco que flerta com o tema da morte, alimenta a esperança, desce até o inferno e traz uma perspectiva positiva tratando do assunto como ele deve ser tratado: como somente mais uma fase da vida.
Aeroplano / Ditadura da Felicidade
A banda paraense estrutura um conceito muito bem definido para seu disco e trabalha de forma coesa e criativa nosso cotidiano da busca constante da felicidade. Atualidade, mídia, drogas lícitas e terapia são elementos utilizados como base crítica em um trabalho que bebe fundo no indie dos anos 2000.
Chapa Mamba
No comecinho do ano, a dupla carioca Chapa Mamba lançou seu primeiro disco homônimo e mostra suas vísceras sem medo ou pudor. É rock cru, direto, sem clichês ou firulas. Em um momento em que as bandas de rock buscam inspiração nos modelos americanos e britânicos cheios de requinte, a Chapa Mamba prima pela simplicidade e por ter uma identidade própria ignorando qualquer modelo pré-concebido, com referências únicas, típicas, regionalizadas e muito bom humor.
Caapora / Verde Vingança
Pernambuco de cabo a rabo, a Caapora conseguiu unir repente, psicodelismo, hardcore, sertanejo e rock progressivo em um pacote brasileiro único e embalado para exportação, com direito a cover de Hei Man, da excelente Ave Sangria.
Anelis Assumpção / Amigos Imaginários
Deixando claro que o objetivo é encontrar seu próprio som, a filha de Itamar Assumpção consegue desenvolver um som descompromissado, autoral e que passeia por variáveis sonoras e personagens urbanos. Esse descompromisso torna o álbum uma caminhada improvisada e colorida por ruas, vielas, bares e bibocas.
Transmissor / De lá não ando só
Neste terceiro disco da banda de Belo Horizonte, há uma rara fluidez entre todas as músicas, alternando de forma concreta as vozes, os timbres, letras e as diversas sonoridades. Um trabalho completo, que merece ser ouvido do início ao fim para poder entrar na atmosfera proposta. Parece um grande papo entre amigos, com momentos alegres, tristes e de muita reflexão.
Dani Carmesim / Das tripas coração
Depois dos ótimos Eps “Devaneios” e “Tratamento de Choque”, Dani Carmesim canta seu cotidiano em 10 músicas que expõem adversidades, alegrias, tristezas, loucuras, frustrações e sentimentos diversos, utilizando sonoridades variadas que se alternam de acordo com o estado de espírito das canções.
Lê Coelho / Tuvalu – Uma história oral do nosso tempo
Em seu primeiro disco solo, Lê Coelho nos leva a refletir sobre nossas atitudes na momento atual, desde pequenas decisões até como isso influencia nas mudanças climáticas, induzindo o ouvinte a entender seu papel na sociedade e como é importante o sentido de coletividade. Tudo isso com influências de MPB, sertanejo e samba.
Charlie e os Marretas
Antes de botar esse disco para ouvir, afaste o sofá um pouco porque é quase impossível você não entrar na brincadeira dançante do Charlie e os Marretas. Eles buscam no funk, no soul e no groovy toda a força necessária para energizar o ambiente em que estejam. E conseguem.
Amsteradio / Fight for your right (to Samba)
A banda carioca ganhou destaque com o rock frenético e divertido com dois Eps, agora organiza tudo em um álbum com 10 divertidas canções e letras sobre o dia a dia da molecada de qualquer idade.
Pessoal da Nasa / EP
Rock da melhor qualidade, mas com personalidade, o Pessoal da Nasa lança seu primeiro e ótimo EP com a influências de british rock, grunge e progressivo, com riffs potentes e letras poderosas.
Juvenil Silva / Super Qualquer no meio de lugar nenhum
Em seu segundo álbum, Juvenil Silva continua sua catarse sonora setentista com inspiração nas ruas de Recife, nos problemas do dia a dia e no caos urbano.
Tagore / Movido a Vapor
O primeiro disco da banda prima pelas influências regionais brasileiras, contando histórias da sociedade contemporânea com energia, referências diversas e crônicas do politicamente incorreto. Baião psicodélico da melhor qualidade, que respira o tradicional e inspira a modernidade.
Memórias de Um Caramujo / Cheio de Gente
Provavelmente nenhuma banda transforma música em apoteose na atualidade como a Memórias de um Caramujo. Das letras nonsense poéticas, passando pelas melodias bem trabalhadas, até a elocubração sobre assuntos diversos, a sonoridade única passa por um milhão de referências, mas esbanja autonomia.
Graveola e o Lixo Polifônico / Vozes Invisíveis (ou 2 e 1/2)
Depois de 3 anos deste o último trabalho, a Graveola continua sem medo de errar. E acerta bonito. A essência da banda está lá, mas com toques e detalhes diferentes, que só fazem a estética sonora da banda ainda melhor, com melodias e letras que fluem e crescem durante todo o disco. Belíssimo!